Briosa totalmente homofóbica demais.
Você não faz a mÃnima idéia de qual é a vontade de Deus. As interpretações que são feitas desse livro são totalmente parciais e em nada tem a ver necessariamente com qualquer vontade divina, posto que foram seres humanos que a redigiram.
Leia esse texto:
Violência contra a BÃblia? Ou inspirada pela BÃblia? A homofobia como assassinato
Rev Dr Thomas D. Hanks http://www.icmbrasil.org/index.htm?violencia.htm~principal
“Ai da rebelde, a manchada, a cidade opressora!....
Seus prÃncipes na meio dela são leões rugindo,
seus juizes, lobos da tarde,
no deixam um osso para a manhã.
Seus sacerdotes... fazem violência à lei.
Yahveh, é justo no meio dela;
não comete injustiça;
cada manhã pronuncia seu julgamento,
não falta nunca ao amanhecer” (Sofonias 3:1-5).
O profeta Sofonias escreveu durante os primeiros anos do reinado de JosÃas, entre 640 e 609 a.C., em Judá; 2Reis 22,1-23; 25. Antes que as reformas de JosÃas se completassem. Sofonias descreve Jerusalém como um lugar onde as Escrituras Hebraicas eram tão torturadas pelos intérpretes oficiais, ao ponto dele dizer que os sacerdotes faziam violência contra a lei. A lei, a Torá, mesma sofria violência!
Trazendo a tradição da Inquisição Espanhola ao Novo Mundo, quando Balboa chegou ao Panamá, encontrou quarenta travestis entre a população nativa, e imediatamente ordenou que fossem jogados aos cães. No começo do reinado do terror dos nazistas, em 1934, Hitler primeiro fez com que dirigentes militares fossem acusados de homossexualidade e executados. Mais tarde, fez com que milhares de civis homossexuais fossem presos, junto com os judeus e outras “minorias” que foram marcadas como bodes expiatórios; os obrigou a levar um triângulo rosa na roupa, e finalmente os fez assassinar. Estes exemplos de violência, foram inspirados pela BÃblia e a tradição judaico-cristã, ou devemos considerá-los um resultado da violência exercida contra a BÃblia por parte de seus homofóbicos intérpretes oficiais?
Alguns textos que foram torturados e nos quais a BÃblia sofreu violência:
Gênesis 19:1-25: Sodoma e Gomorra. Historicamente, o texto da BÃblia que mais comumente se tem citado para justificar a violência contra os e as homossexuais é a narrativa de Gênesis sobre a destruição de Sodoma e de Gomorra pelo fogo enviado por Deus. Especialmente desde o século XII, que apresentou una verdadeira explosão de anti-semitismo e homofobia na Europa Ocidental; os pregadores têm recorrido habitualmente a histéricas arengas nas quais a "sodomia" é definida como "atos sexuais entre homens"; e é denunciada como o pecado mais abominável ante Deus, e apresentada como explicação da destruição daquelas duas cidades (e das outras circunvizinhas)*. A queima medieval (e da Idade Moderna) de "sodomitas", e a pena de morte prescrita por "sodomia" na Europa e nas Américas foram justificadas com facilidade, apelando ao capÃtulo 19 do Gênesis. Mesmo hoje encontramos pregadores que podem ser escutados pedindo fundos para que os ajudem a salvar a nação da terrÃvel ameaça dos "sodomitas/homossexuais".
Quando os "sodomitas" foram queimados ou executados de outras maneiras pelo crime de "sodomia", isto representa uma violência inspirada pela BÃblia, ou é um caso de violência exercida contra a BÃblia por lÃderes religiosos (e tradutores) homofóbicos?
Assim começa a historia: "Os dois anjos chegaram a Sodoma pela tarde" (Gn 19,1). Não se diz nem uma palavra sobre relaciones sexuais entre seres humanos. Em troca, lemos como certos homens tentaram ter sexo com anjos! Se isto é tudo o que nossas leis “anti-sodomÃticas” argumentam, porque se matou e se aprisionou (se excluiu, se discriminou e se desprezou) tanta gente, ninguém deveria Ter jamais sido sentenciado, a não ser que tivesse tentado, na realidade, manter sexo com um anjo!!
A historia continua contando como todos os homens de Sodoma, e não apenas um, ou dez por cento, efetuaram uma firme tentativa de violentar aos visitantes angélicos (cf Gn 19,4-11). Não foi a proposta de uma relação consentida e amorosa, e sim a violência de uma multidão decidida a infligir violação em massa e a humilhar a estrangeiros, em vez de dar-lhes as boas-vindas e praticar a hospitalidade. Que Deus, nesta narração, julgue com dureza a tentativa de violação em massa contra seus mensageiros angélicos, não provê nenhuma base racional para condenar as relaciones do mesmo sexo, consentidas e amorosas, entre adultos. Podemos comparar isto com o caso do rei Davi, a quem o profeta Natán reprovou por seu adultério com Betsabé e o assassinato de seu marido (cf 2Sm 12). Interpretar esse texto como uma condenação divina da "heterossexualidade" seria violentar as Escrituras. No entanto, é precisamente esta tortura do texto o que os intérpretes oficiais têm perpetuado durante séculos no caso da historia de Sodoma.
O que é obvio a partir de uma leitura cuidadosa de Gênesis 19, se confirma facilmente ao buscar na BÃblia as 48 referências a Sodoma. Sodoma é condenada por violência e opressão, que inclui o que nós chamarÃamos "violação sexual", por negativa de hospitalidade, e por falta de solidariedade com os fracos e os pobres (cf Ez 16,46-49), mas nunca por "homossexualidade" nem por nenhum equivalente lingüÃstico da antigüidade. Somente na literatura intertestamentária, certos escritores judeus começaram a usar a história de Sodoma para condenar alguns tipos de condutas genitais entre pessoas do mesmo sexo, condutas comuns na cultura greco-romana de seus dominadores. Significativamente, Jesus rejeitou esta interpretação homofóbica e xenofóbica, tão popular entre seus compatriotas contemporâneos, e voltou ao sentido original da história, que é uma advertência contra a cruel negativa de hospitalidade (cf Mt 10,15; Lc 10,12).
Sodoma no ensinamento de Jesus (cf Mt 10,14-15; Lc 10,11-12). Enquanto todo mundo acreditava saber com segurança que o pecado de Sodoma era a "sodomia", apareceu obvio que Jesus havia declarado que o julgamento de Deus era contra os homossexuais. No entanto, quando os biblistas começaram a reconhecer que a historia do Gênesis sobre Sodoma havia sido seriamente mal interpretada e que as velhas versões haviam traduzido mal os textos do Antigo Testamento, surgiu uma crise teológica: o próprio Jesus não somente havia evitado os erros homofóbicos de séculos de erudição cristã, mas que também havia inclusive antecipado a "moderna" percepção de que o verdadeiro pecado de Sodoma havia sido a negativa de hospitalidade e o recorrer à violência contra estrangeiros. Quando Jesus mandou a seus discÃpulos que empreendessem uma missão à s cidades vizinhas, sem levar provisões para sua viajem, terminou dizendo (Mt 10,14-15; Lc 10,11-12): “E se não os receber nem escutar vossas palavras, saà da casa ou da cidade aquela, sacudindo o pó de vossos pés. Eu os asseguro: no dia do JuÃzo haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra que para aquela cidade”.
Em Gênesis 18, Abraão provê um exemplo clássico de hospitalidade, dirigida aos visitantes angélicos; e logo depois Gênesis 19 faz contrastar essa imagem com a negativa de hospitalidade, a violência da multidão e a tentativa de violação em massa por parte dos homens de Sodoma. à claro que Jesus rejeitou o uso homofóbico da historia de Sodoma, que se havia tornado popular em certos cÃrculos judaicos de seu tempo, e chamou a atenção de seus discÃpulos novamente sobre a intenção do contexto original de Gênesis 19: condenar a negativa de hospitalidade e o uso da violência contra os estrangeiros.
Sem dúvida, uma vez que se entende a intenção de Jesus, todas as teologias homofóbicas tradicionais entram em crise: Jesus prometeu vida eterna a todos os que cressem nele e obedecesse a seu Mandamento de amor (cf Jo 8,12; 10,10; 11,25; 15,13; 20,31; Mt 10,39...), mas diferentemente de muitos de seus compatriotas de sua época, não teve nem uma palavra contra os atos sexuais entre pessoas do mesmo gênero. As palavras de Jesus, como dezenas de outros textos bÃblicos referentes a Sodoma, haviam se tornado parte do arsenal usado para promover a violência contra as “minorias” sexuais. Mas quando os biblistas começaram a redescobrir o significado original da história de Sodoma, a base principal de tão comentado apoio bÃblico à homofobia desapareceu. Jesus não havia promovido a violência contra as “minorias” sexuais: suas palavras haviam sido torturadas e sofreram a violência dos intérpretes oficiais homofóbicos. E, para grande embaraço das sociedades missionárias evangélicas modernas, que comumente requerem que os homens se casem, se evidenciou que Jesus enviou a seus discÃpulos como pares de homens, veja-se também Paulo e Timóteo e outros!
Judas 7, o irmão de Jesus: outra vez Sodoma. Das 48 referências bÃblicas a Sodoma, somente Judas 7 se centra no que nós chamarÃamos a dimensão "sexual" de Gênesis 19. A primeira vista, esta ênfase pareceria contradizer o fato de que o próprio Jesus se concentrou na rejeição de Sodoma em ser hospitaleira com os viajantes sem lar: “E o mesmo Sodoma e Gomorra e as cidades vizinhas, que como eles, fornicaram ( em grego: ekporneúsasai) e foram atrás de uma carne diferente (em grego: sarkós hetéras)" (Jd 7, BJ).
à de se notar que aqui Judas emprega a própria palavra grega (hetéras) da que obteremos a palavra "heterossexual": alguém cuja orientação sexual leva à uma preferencia pelo "outro" sexo, ou gênero "diferente". Os biblistas estão de acordo em que a referencia de Judas à "carne" que é "diferente" significa precisamente a carne dos anjos não humanos de Gênesis 19, interpretado em relação com Gênesis 6,1-4, donde se diz que os anjos, "filhos de Deus", tiveram relações sexuais com mulheres (ver Judas 6). A BÃblia de Jerusalém, citada acima, diz em sua nota: "carne que não era humana, posto que seu pecado havia sido o de querer abusar de anjos". Partindo do grego ou de qualquer tradução adequada, ninguém poderia sequer sonhar interpretar que Judas 7 tem a intenção de condenar a homossexualidade, ainda que se poderia mal interpretar o texto grego tomando-o comicamente de um modo literal, e supor que haja implÃcita uma condenação da heterossexualidade. Mas, com a exceção da BÃblia de Jerusalém, os intérpretes têm traduzido corretamente o texto, ou têm torturado e exercido violência contra ele? à chocante notar que na versão muito difundida, Deus Fala Hoje: A BÃblia, Versão Popular, de 1963, Judas 7 é traduzido assim: "Também Sodoma e Gomorra e as cidades vizinhas se entregaram à s imoralidades sexuais, e se deixaram levar por vÃcios contra a natureza". (Ou então a tradução Almeida da Sociedade BÃblica do Brasil, de 1969: “como Sodoma e Gomorra e as cidades circunvizinhas que, havendo-se entregue a prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo punição”). Quase igual (a Deus fala Hoje,) é a versão Reina Valera: "havendo...ido atrás de vÃcios contra natureza". E muito parecida é a versão de O Livro do Povo de Deus, Paulinas, 1987, que traduz Judas 7: "deixando-se arrastar por relações contra a natureza". (A tradução da editora Ave Maria, de 1992, comete o mesmo equÃvoco. A Edição Pastoral, que pretende ser interpretada a luz da Teologia da Libertação, da editora Paulinas, de 1990, traz “vÃcios contra a natureza”, e remete a uma nota a 2Pe 2, que nada tem a ver com o assunto...).
No grego original de Judas 7 não existe nenhuma palavra que se possa traduzir como "vÃcios/relações contra a natureza", e a BÃblia de Jerusalém, que representa a melhor erudição de biblistas romanos, não inclui tal noção e indica claramente em sua nota a que se refere o texto quando fala de "outra carne". De onde, então, tantos tradutores tiram a noção de "vÃcios contra a natureza"? Obviamente têm imposto sobre a linguajem de Judas sua compreensão de Romanos 1,26-27, onde São Paulo fala da impureza sexual dos gentios como algo "contra a natureza".
Obviamente, em Judas 7, assim como em Gênesis 19, a referência a Sodoma não provê base nenhuma para condenar aos (e as) homossexuais e promover condenações de prisão, penas de morte ou violência popular (e exclusão) contra eles (e elas). Aqui temos outro claro caso de intérpretes que torturam o texto e fazem violência à BÃblia. Como podemos explicar tão evidente preconceito em tantas traduções eruditas a não ser que reconheçamos a influencia da homofobia?
Deuteronômio 23,17-18: "Sodomitas" em cinco textos Hebraicos? Outro patente indicio da influencia da homofobia nas traduções é evidente nas antigas versões do Deuteronômio 23,17-18, que na Reina Valera se lê assim: “Não haja rameiras (hebreu: kedesha) entre as filhas de Israel, nem haja sodomita (kadesh) entre os filhos de Israel. Não trarás a paga de uma rameira (zonah), nem o preço de um cão à casa de Jeová, teu Deus por nenhum voto; porque abominação a Jeová, teu Deus, tanto um como o outro”. (E a versão Almeida, da Sociedade BÃblica do Brasil, traz: “Das filhas de Israel não haverá quem se prostitua no serviço do templo, nem dos filhos de Israel haverá quem o faça. Não trarás salário de prostituta nem preço de sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto; porque uma e outra coisa são abomináveis ao Senhor teu Deus”. A Edição Pastoral traduz “Entre as israelitas não haverá prostituta sagrada, nem prostituto sagrado entre os israelitas. Não leve à casa d e Javé, seu Deus, como cumprimento de um voto, o salário de uma prostituta sagrada, em o pagamento de um prostituto sagrado, porque os dois são abomináveis para Javé seu Deus”; a Ave Maria, traduz “Não haverá mulher cortesã nem prostituta entre as filhas ou entre os filhos de Israel. Seja qual for o voto que tiveres feito, não levarás à casa do Senhor, teu Deus, o ganho de uma prostituta nem o salário de um cão; porque uma e outra coisa são abomináveis pelo Senhor, teu Deus”. Salário de um cão?!!).
O grave erro da maioria destas é introduzir uma referencia a Sodoma com a tradução "sodomita" quando a palavra hebraica original não faz nenhuma referencia a Sodoma ou seus habitantes). A Versão Popular traduz Deuteronômio 23,17 assim: “Nenhum homem nem nenhuma mulher israelita deverá consagrar-se à prostituição praticada em cultos pagãos”. A BÃblia de Jerusalém traduz: Não fará hiérodula entre as israelitas, nem hiérodula entre os israelitas”. O texto hebraico emprega uma palavra para indicar a mulher prostituta no culto pagão: kedesha, que literalmente significa uma mulher "consagrada/santa"; então o texto hebraico emprega a mesma palavra em sua forma masculina (kadesh) para assinalar um homem "consagrado/santo", também prostituto no culto pagão. Geralmente os prostitutos e as prostitutas associados aos cultos pagãos serviam a pessoas do sexo oposto: se acreditava que esta prática nos ritos promovia a fertilidade. Nada no texto indicaria que o Deuteronômio pensa em relações sexuais entre pessoas do mesmo gênero. No entanto, as antigas traduções, sem nenhum fundamento, introduziram a palavra "sodomita" (e as novas, a palavra “cão”,) para traduzir a referência hebraica à "prostituto consagrado" nos cultos pagãos. Assim, estas traduções provocaram que quatro séculos de cristãos hispanofalantes e anglofalantes (e lusofalantes) acreditassem que o Deuteronômio estava condenando qualquer atividade sexual entre homens.
O mesmo tipo de erro de tradução se repetiu em outros quatro textos do Antigo Testamento (na versão Almeida, 1Rs 14,24, é traduzida como “prostitutos sagrados”, enquanto que a edição da Ave Maria, 1992 trás “prostitutas” e o termo “sagrada”, apresenta entre parênteses, enquanto que a Edição Pastoral, apresenta “prostituição sagrada” e, em espanhol, a Reina Valera traduz como “sodomitas”, enquanto que em inglês fala de “prostitutos”. Ainda em 1Reis 15,12, a versão espanhola afirma que o rei Asa “tirou os sodomitas do pais”, enquanto que na Edição Pastoral ele diz “expulsou do paÃs a prostituição sagrada” e a Almeida se refere a “prostitutos-cultuais”. Ainda em 1Reis 22,46 a Reina Valera afirma que Josafá “varreu também da terra o resto dos sodomitas que tinha ficado no tempo de seu pai Asa”, enquanto que a Almeida trás que ele “exterminou da terra os restante dos prostitutos-cultuais”, mas no versÃculo 17!! Em 2Reis 23,7, a violência contra a BÃblia ainda é maior, pois enquanto a Almeida diz, literalmente: “Também derribou as casas da prostituição-cultual que estava na casa do Senhor, onde as mulheres teciam tendas para o poste-Ãdolo”, e a Edição Pastoral diz que “Destruiu as casas de prostituição sagrada que havia no Templo de Javé, onde as mulheres teciam as vestes de Aserá”, e a Ave Maria versa que “Destruiu os apartamentos das prostitutas que se encontravam no templo do Senhor, onde as mulheres teciam vestes para Asserá”, a Reina Valera fala em “prostituição idolátrica”, não especificando se eram homens ou mulheres. Assim, conforme a versão da BÃblia que se lê, a pessoa pode acreditar encontrar nela justificativa para, com exemplo dos antigos reis de Israel, ter bases sólidas para (humilhar, excluir,) perseguir, torturar e matar aos que os tradutores chamam "sodomitas". No século XIX, forças mais benevolentes do Iluminismo lutaram para reduzir o castigo e transforma-lo em longas sentenças de prisão, como foi o caso de Oscar Wilde, na Inglaterra. Mas havia a BÃblia mesmo inspirado toda esta violência? Ou os textos haviam sido torturados por tradutores e intérpretes oficiais, que impuseram seu próprio ódio e homofobia à BÃblia?
LevÃtico 18,22; 20,13. O Sexo Mais Seguro Antes dos Preservativos?
Se algum texto bÃblico dá a impressão de promover a violência contra os homossexuais, LevÃtico parece ser o culpável (Lv 20,13): “Se um homem se deita com homem, como se faz com mulher, ambos cometeram abominação: morram sem remédio; seu sangue cairá sobre eles”.
Este texto parece especialmente culpável de promover violência, porque sobrepassa largamente as atitudes negativas refletidas em outras culturas antigas. Os intérpretes cristãos comumente deixam de lado tais textos do Antigo Testamento, considerando que o melhor que se pode fazer com eles é ignorá-los. Inclusive os judeus ortodoxos têm que ler dez capÃtulos inteiros do LevÃtico, com suas detalhadas instruções para sacrifÃcios e vestimentas sacerdotais, até encontrar algo que possa considerar-se normativo hoje. E os cristãos não encontrarão nem uma só provisão que possam considerar normativa antes de chegar ao capÃtulo 18. Muitos preferiam esperar até chegar ao capÃtulo 19, onde aparece o mandamento de amar ao próximo: uma norma que tanto Jesus como São Paulo declararam de validez permanente (cf Mc 12,31; Rm 13,8-10). Jesus também fez que as radicais provisões de LevÃtico 25, sobre o Ano do Jubileu, fossem de central importância em seu próprio sentido de missão e propósito (cf Lc 4,18-19).
Mas precisamente, que classe de ato sexual entre homens requer a pena de morte? A linguajem é eufemÃstica, porém os intérpretes agora têm demostrado que se refere somente à penetração anal de homem a homem sem preservativo: Saúl Olyan, 1994/97; D. Boyarin 1995; B. Brooten 1996. No antigo Oriente Próximo, penetrar sexualmente a outro homem "como a uma mulher" era um modo comum de humilhar violentamente aos estrangeiros: W. W. Fields 1997 e aos prisioneiros de guerra. Sem dúvida, também chegou a ser uma prática comum dos prostitutos que serviam nos cultos idolátricos pagãos (cf Dt 23,17-18, acima). Possivelmente a palavra "abominação" aponta à um ato sexual realizado no contexto da adoração idolátrica.
No entanto, ainda que esteja associado com os ritos de fertilidade pagãos, o sexo anal entre homens era uma receita para a esterilidade, a não fertilidade. E as instruções sexuais do LevÃtico buscam cumprir com o mandamento de "sede frutÃferos e multiplicais" de Gênesis 1,28, também da fonte sacerdotal "P", como o LevÃtico. A moderna tragédia da aids tem mostrado que o sexo anal é medicamente perigoso. O sacerdotes que escreviam o LevÃtico séculos antes dos preservativos se opuseram ferozmente a uma prática varonil que em sua experiência geralmente era violenta, injusta, humilhante, idolátrica e sempre estéril; sem sabê-lo, também protegeram a Israel do flagelo de muitas enfermidades que poderiam ser transmitidas pelo sexo anal sem preservativos.
à possÃvel sustentar que incluso nos casos de LevÃtico 18,22 e 20,13 os intérpretes oficiais torturaram e violentaram os textos? Sim! A técnica mais comum têm sido atar estes textos a uma espécie de máquina do tempo, transportando-os ao século XX (e XXI) e forçando-os a responder perguntas modernas sobre a homossexualidade. Com esta técnica os intérpretes podem ignorar o que os textos tentavam dizer em seu contexto original, e fazê-los dizer qualquer coisa que nossa cultura e nossos preconceitos ditem: sentenças de prisão para "gays e lésbicas praticantes", por exemplo. No entanto, estes textos patriarcais falam somente de homens, e não dizem nem uma palavra sobre as lésbicas e outras mulheres que empreendam práticas sexuais entre mulheres.
Além disso, nas culturas antigas a grande maioria dos homens que tinham sexo com outros homens eram bissexuais e heterossexuais. E o texto, como no caso de homens ou mulheres que tinham sexo com animais (cf Lv 20,15-16), insiste na pena de morte de ambos; ainda quando um menino ou animal poderia haver sofrido violação sexual. Segundo LevÃtico 20,13, ainda um jovem ou menino seduzido ou forçado por um adulto deve morrer também, porque é um caso de "contaminação." Ao LevÃtico não lhe interessa uma suposta "orientação sexual" dos culpados, nem seu consentimento, nem a repetição de ofensas: um só ato reclama a pena de morte para ambos os envolvidos. Segundo o Relatório Kinsey, tal lei posta em vigor (atualmente) implicaria na pena de morte para 37% da população masculina, e muito poucos destes seriam de orientação homossexual. O enxerto do conceito cientÃfico moderno de orientação sexual e homossexualidade nos textos não respeita seu caráter pré-cientÃfico, incluindo as premissas patriarcais sobre a superioridade do homem.
Sem dúvida, o LevÃtico não sabia nada dos homens homossexuais de hoje, que mantém relações amorosas (e responsáveis), praticam o sexo oral, e a masturbação mutua, assim como o sexo anal com preservativos. Portanto não se dirige à eles. Tomar “pelo pescoço” dois textos de LevÃtico, ignorar seu contexto histórico, como a urgência de aumentar a população, e obrigá-los a prover respostas simplistas à complexas perguntas modernas é violar tanto os textos como o libro em que aparecem. E qualquer pessoa que cite um texto que demanda a pena de morte para homens que praticam o sexo anal como base para sustentar sentencias de prisão (ou qualquer outra forma de violência e exclusão) contra lésbicas, ou se é um hipócrita (ou um ignorante e) é enganar-se a si mesmo terrivelmente.
"Homem-camas" em duas listas de vÃcios (1Cor 6,9; 1Tm 1,10). Em duas listas paulinas de vÃcios encontramos um termo raro e obscuro, provavelmente cunhado por São Paulo mesmo, a partir de duas palavras gregas comuns, que literalmente se pode traduzir por homem-camas (no grego: arsenokoitai). Em 1 Corintos 6,9 "homem-camas" é precedido por uma palavra comum que significa "suave, brando." A Reina Valera traduz "homem-camas" como "os que se deitam com homens, e "suave/brando" como "afeminados", (enquanto que a Edição Pastoral, falam de “efeminados” e “sodomitas”, mas no versÃculo 10, enquanto que a Almeida, apresenta também “efeminados” e “sodomitas”, mas no versÃculo 9!! E a Ave Maria traduz os termos para “efeminados” e “devassos”, o que convenhamos, é bem diferente do sentido usual de “sodomitas”! Sobre as versões mais populares da 1Tm 1,10, a Almeida apresenta “impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros, e para tudo o que se opõe a sã doutrina”, enquanto Ave Maria trás “os impudicos, os infames, os traficantes de homens, os mentirosos, os perjuros, e tudo o que opõe a sã doutrina”; e a Edição Pastoral traduz o versÃculo assim: “impudicos, pederastas, mercadores de escravos, mentirosos, para os que juram falso, e para tudo o que se oponha a sã doutrina”; enquanto que na Reina Valera a tradução é a seguinte: “para os fornicadores,, para os sodomitas, para os seqüestradores, para os mentirosos e os perjuros, e para quanto se oponha a sã doutrina” e na versão inglesa desta mesma edição é assim: “para adúlteros e pervertidos, para traficantes de escravos e mentirosos e perjuros, e tudo o mais que seja contrario a sã doutrina”). Inclusive no século XX havia teólogos (especialmente romanos) que citam o texto para condenar a masturbação, que veio a ser qualificada como "abuso de si mesmo".
No entanto, no mundo de fala inglesa, por volta da década de quarenta, a maioria dos médicos e psicólogos haviam reconhecido que a masturbação era normal e saudável, mas a homossexualidade continuou a ser considerada uma enfermidade, já não mais o pecado ou o vicio da "sodomia". Influenciados por estas mudanças radicais nas ideologias sexuais, em 1946 apareceu em inglês o Novo Testamento da Revised Standard Version (RSV), que traduziu ambas palavras ("brandos" + "homens-camas") com um só e novo termo cientÃfico: "homossexuais". Assim, de uma vez, na versão em inglês, Paulo parece falar uma linguajem tão atualizada como o do Relatório Kinsey de 1948.
Desgraçadamente, São Paulo tardou um pouco em aprender o novo jargão cientÃfico em castelhano (e em português). Por fim, em 1973, a BÃblia de Jerusalém (espanhola) introduziu "homossexuais" para traduzir "homens-camas", também em 1Timóteo 1,10, mas manteve "afeminados" para traduzir o primeiro termo "brandos" em 1 Corintos 6,9, respeitando assim o machismo cultural dominante. Desta maneira um par de textos paulinos obscuros e ignorados, se transformaram de uma vez, com o toque da varinha mágica dos tradutores, em oráculos proféticos: para incontáveis pios leitores da BÃblia, primeiro em inglês e 28 anos depois em espanhol (e português) se fez evidente que Deus havia inspirado São Paulo com uma intuição das matérias cientÃficas sobre orientação sexual que não haviam sido esclarecidas para o mundo em geral durante dois mil anos.
Sem dúvida, vários eruditos assinalaram que, independente do que significasse "homens-camas", Paulo estava descrevendo uma ação ou hábito, não uma "orientação sexual". Alguns concluem que Paulo provavelmente inventou a palavra "homens-camas" para referir-se ao sexo anal sem preservativos, por parte de homens maiores que se aproveitavam assim de jovens adolescentes, a paidofilia, em grego. Outros sugerem que Paulo fala de jovens prostitutos, possivelmente associados aos cultos pagãos, que serviam tanto à homens como à mulheres. O uso do termo "homens-camas" em 1 Timóteo 1,10, sem o termo "brando" acompanhando-o, torna difÃcil fazer uma distinção precisa entre os penetradores e os penetrados no sexo anal. No entanto, o que deixaram claro, ambos os textos, é que os vÃcios destas listas são exemplos de atividades que são "injustas" ou “opressivas", já que refletem um abuso de autoridade ou de poder, não uma relação consentida de amor entre iguais.
Romanos 1,26-27. Um Pretexto fora do Contexto? Em Romanos 1,26 Paulo fala das mulheres dos homens gentios que abandonaram as relações sexuais naturais para relações "contra a natureza", provavelmente uma referencia à s relações heterossexuais anais. Durante quase quatro séculos, os Padres da Igreja, Clemente de Alexandria (150-215 d.C.), Anastácio (c. 200) e Agostinho (354-430) interpretaram Romanos 1,26 desta maneira. João Crisóstomo (344-408 d.C.) é o primeiro que interpretou 1,26 como uma referencia ao homoerotismo feminino. Tem sido comum supor que em 1,26 o Apóstolo faz a única referencia bÃblica ao lesbianismo, mas agora se entende melhor que a referencia é ao sexo anal, evitando assim a procriação, em relações heterossexuais.
Em Romanos 1,27, então, Paulo fala de homens que fazem o mesmo, mas com outros homens, sexo anal, sem preservativos, como vimos acima, que o texto do LevÃtico. O "do mesmo modo" que vincula 1,26 e 1,27 não refere, então, ao conceito moderno de uma orientação homossexual, e sim à prática de sexo anal, sem preservativos, por parte de casais heterossexuais e de homens entre si (James E. Miller 1995; 1998).
Paulo não descreve os desejos e práticas sexuais dos gentios como "pecaminosos" ou "injustos", mas, desde a perspectiva judia, como "impuros/imundos" (1,24): incapacitam à pessoa para entrar no Templo. No entanto, a medida que Paulo expõe e desconstroi o argumento, insiste que, para a perspectiva cristã, "nada há de sujo ou impuro" (14,20). A Versão Popular e algumas outras versões eliminam as implicações sexuais, mal traduzindo "todos os alimentos" em vez do simples "tudo" do grego original; ver Tito 1,15, (a Ave Maria traduz “Todas as coisas, em verdade, são puras”; a Edição Pastoral: “Todas as coisas são Puras” e a Almeida: “Todas as cousas, na verdade, são limpas”; a Reina Valera, na versão espanhola diz: “Todas as coisas, à verdade, são limpas”, e a versão inglesa: “Toas as comidas são limpas”...).
A retórica que Paulo utiliza para ilustrar seu sermão manifesta uma desconstrução parecida ao tratar da descrição das práticas sexuais dos gentios como "contra a natureza". Ao ler Romanos 1,26-27 fora do contexto, facilmente se conclui que todo o "contra natura" deve ser pecaminoso, o que era uma idéia comum no pensamento filosófico da época. Mas, em Romanos 11 Paulo desconstroi esta interpretação, usando exatamente a mesma frase grega: pará physin, contra natura, insistindo em que é Deus quem, continuamente, atua assim ao converter aos gentios e exertá-los "contra natura" na árvore da oliveira, sÃmbolo de Israel. Obviamente qualquer milagre descrito nas Escrituras é "contra natura"! O elo lingüÃstico entre Romanos 1,26 e 11,24 é, habitualmente, ignorado pelos intérpretes homofóbicos; e inclusive quando se o notam, normalmente omitem assinalar que é Deus quem atua contra a natureza em Romanos 11,24.
Apelando às atitudes judaicas em Romanos 1,24-27, Paulo fala dos atos sexuais dos gentios como feitos que implicam estigma social e perda da honra. Mas em Romanos 3,21-26 Paulo se gloria na cruz (Gl 6,14), demostrando que é precisamente na crucificação de Jesus, a experiência mais vergonhosa imaginável, onde Deus cumpriu nossa redenção. Daqui que os cristãos podem "jactar-se" (Rm 5,2-3,11) de sua salvação conquistada através de um ato vergonhoso. Podem manter uma esperança que "não expõe à vergonha", Romanos 5,5; e conforme Hebreus 12,2, que descreve a Jesus "desprezando a vergonha" ou o estigma social da cruz.
Os comentaristas estão cada vez mais de acordo em que o argumento sutil e profundo de São Paulo, que apela alternadamente a leitores judeus e gentios, somente alcança sua meta no chamado à hospitalidade mutua, e a deixar de lado os preconceitos tradicionais: "Assim pois, recebam-se uns aos outros, como também Cristo recebeu a vocês, para gloria de Deus" (Rm 15,7). Uma negativa de hospitalidade ao modo de Sodoma não deve caracterizar as cinco igrejas em casa de Roma. Os judeus poderiam manter suas tradições sobre as práticas gentias "impuras", mas não deviam impor tais distinções aos gentios convertidos. Em Romanos 16, as cálidas saudações de Paulo à lares que compreendem todos os tipos de acordos de convivência tÃpicas das minorias sexuais, entre os saudados há somente pares casados!, confirma esta compreensão. A interpretação homofóbica exerce violência contra o evangelho libertador de Paulo, ao ler 1,26-27 fora do contexto, impondo o conceito moderno de orientação homossexual, traduzindo mal versÃculos chaves que devem ser lidos relacionados com outros e omitindo seguir o argumento de Paulo até o final do libro.
CONCLUSÃO
O número de homossexuais mortos no Holocausto nazista foi pequeno, comparado com os milhões de judeus mortos, provavelmente porque aos judeus era mais fácil de identificar. No entanto, recentes estudos contém abundantes provas que indicam que os representantes das “minorias” sexuais assassinados nos últimos mil anos bem podem exceder aos seis milhões de judeus assassinados no Holocausto. Se realmente pudéssemos traçar uma linha reta de causalidade histórica do LevÃtico a Hitler, como sustentam alguns, poucos quereriam considerar a BÃblia como um guia útil para a vida moderna, e muito menos considerá-la inspirada por um Deus de amor. Acima esboçamos uma hipótese alternativa: que uns poucos textos bÃblicos foram arbitrariamente selecionados, violentamente mal interpretados e usados como pretexto para racionalizar medos e ódios humanos comuns. Um estudo mais detalhado dos textos e a história de sua interpretação dá amplo fundamento à conclusão de que a BÃblia tem sofrido repetida violência nas mãos dos tradutores e intérpretes oficiais. Interpretada com critérios apropriados, não provê nenhuma base racional para promover o preconceito e a violência contra as minorias sexuais.